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A China não é mais a mesma. O que mudou e como isso afeta o Brasil

O ritmo anual de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), que neste século teve um pico de 14,2% em 2007, limitou-se a 3% em 2022, segundo o Banco Mundial

O crescimento chinês já não é o mesmo. Antes sinônimo de expansão forte e ininterrupta, a segunda maior economia do mundo passa por um momento de transição. O ritmo anual de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), que neste século teve um pico de 14,2% em 2007, limitou-se a 3% em 2022, segundo o Banco Mundial. A perspectiva para este ano é melhor, mas declinante: neste mês, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) rebaixou sua projeção para o PIB da China de 5,1% para 4,6%.

À exceção de "soluços" aqui e ali, a tendência é mesmo de avanços mais moderados daqui em diante. “O crescimento da economia da China está se desacelerando cíclica e estruturalmente. Teremos de nos acostumar a taxa de crescimento menores”, diz a analista Sophie Altermatt, do banco suíço Julius Baer.

Estimativas feitas pelo Itaú indicam que nesta década o PIB chinês deverá ter um crescimento médio de 3,8%. Entre 2031 e 2040 deverá cair para 3,3% ao ano e, na seguinte, para 1,9%. O que, naturalmente, vai afetar o mundo inteiro, em especial países que se acostumaram a crescer a reboque da China – caso do Brasil, que manda vende para os chineses grandes quantidades de minério de ferro, petróleo, soja e carne.

Crescimento anual da economia chinesa, em % (fonte: Banco Mundial)

Sem auxílio às famílias, recuperação da China no pós-Covid foi mais frágil
Os impactos da reabertura na economia chinesa, após a pandemia de Covid-19, diferiram em relação a outros países, aponta relatório do Itaú. A principal razão foi a ausência de estímulo fiscal às famílias.

"Os processos de recuperação mais fortes nos Estados Unidos, Europa e países emergentes – incluindo América Latina – decorreram em parte de substanciais transferências governamentais para as famílias, que impulsionaram o consumo na reabertura pós-Covid", diz o texto.

O Itaú lembra que, no país asiático, a ausência de incentivos às famílias pode ter um impacto estrutural maior. A rede de proteção social no país é limitada, e as famílias chinesas podem ter de manter um nível maior de poupança precaucional por mais tempo – o que significa menos consumo no presente.

Outros problemas são a dissociação do ciclo econômico chinês em relação ao resto do mundo e ao lançamento de políticas de "prosperidade comum", cujo objetivo é priorizar a redução da desigualdade de renda.

Durante a pandemia, em 2020, a China conseguiu manter as fábricas abertas e as exportações avançaram, mantendo a força do crescimento. Em 2021, começaram a ser retirados os estímulos, enquanto outros países os mantinham. E em 2022, os ciclos se inverteram novamente, com os chineses estimulando a economia e o resto do mundo os retirando.

A implantação política de "prosperidade comum" foi desafiadora, aponta o Itaí, possivelmente afetando negativamente o produto potencial, a confiança e o dinamismo do setor privado.

As relações geopolíticas entre EUA e China também vêm se deteriorando desde a guerra comercial de 2018-19 e, de lá para cá, a Covid e a guerra na Ucrânia se somaram aos temas de desentendimento. Os investimentos estrangeiros diretos na China diminuíram significativamente. Nos últimos dois anos, eles foram inferiores ao recebidos por Índia e Brasil.

Perfil da economia chinesa vem mudando
 
Uma das mudanças estruturais em andamento, pelo menos desde 2015, é no perfil da economia. Antes ela era direcionada ao investimento, principalmente em infraestrutura e imobiliário; agora, o foco é o consumo, que por lá representa somente 38% do PIB, segundo dados do Banco Mundial. No Brasil, esse percentual é de 63% e nos Estados Unidos, de 68%.

A queda do gigante asiático: cinco pontos para entender a crise econômica na China

Investimento chinês no Brasil teve recorde de projetos em 2022, mas valor aplicado diminuiu
“O mercado chinês está se sofisticando e a classe média local tem bastante acesso ao mercado internacional”, destaca o sócio-líder do desk China para o Brasil e América do Sul da KPMG, David Lau.

Outra mudança é no cenário do comércio exterior. Os economistas Jinyue Dong e Le Xia, do banco espanhol BBVA, afirmam que os chineses estão deixando de importar bens de alto valor agregado e optaram por realizar a produção no país para buscar a autossuficiência tecnológica.

“O país está passando por um momento de transformação: da exportação de manufaturas de baixo valor agregado para as de alto [valor]”, escrevem os economistas em relatório.

Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, este cenário deve ter impactos no Brasil, especialmente na pauta de exportações. Produtos como minério de ferro e petróleo devem perder espaço. Por outro lado, commodities como soja e carne refrigerada devem continuar mantendo um bom desempenho.

Minério de ferro e petróleo são os segmentos mais ameaçados
 
As mudanças na economia chinesa vão trazer impactos ao Brasil, aponta Nenad Dinic, estrategista de ações do Julius Baer. Uma das mais evidentes é no comércio exterior. Que, por ora, vai muito bem.

Nos oito primeiros meses do ano, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações do Brasil para a China atingiram US$ 67,9 bilhões, 8% mais que no mesmo período de 2022. É o maior valor para o período na série histórica iniciada em 1997.

Uma das atividades que pode sentir com mais força a desaceleração no ritmo chinês é a mineração de ferro, essencial para os investimentos em infraestrutura, especialmente a imobiliária.

As receitas com a exportação de minério brasileiro para a segunda maior economia global foram de US$ 11,7 bilhões entre janeiro e agosto. A queda foi de 6% em relação aos mesmos meses do ano anterior. A culpa foi da queda do preço médio, porque no mesmo período o volume físico embarcado cresceu 8,5%.

Ainda que os números atuais das vendas brasileiras de minério não deem motivo para alarme, especialistas avisam que as perspectivas não são favoráveis. Altermatt aponta que demanda por imóveis vem caindo não só ciclicamente, como também estruturalmente: “Vão ser necessários menos apartamentos à medida que a população chinesa diminua e o crescimento da população se desacelere”.

Outro impacto sobre as importações de minério de ferro vem da decisão das autoridades chinesas em reduzir a dependência do país em relação às atividades imobiliárias. Elas representam até 30% do PIB local.

Do lado da oferta, o governo da China anunciou, em 2021, restrições ao endividamento das incorporadoras. Do lado da demanda, foram reforçados entraves à compra de residências. As medidas foram uma reação a décadas de crescimento descontrolado do setor, que acumulou dezenas de milhões de imóveis vazios e tem incorporadoras às voltas com dívidas gigantescas e provavelmente impagáveis.

A flexibilização a essas restrições, no ano passado, não foi suficiente para animar o setor. Até julho, a atividade na construção civil apresentava queda de 25,7% e o volume de vendas de imóveis recuava 12,8% em comparação com o mesmo período de 2022.

Ainda que tenha tido pouco efeito, a própria flexibilização é um indicativo das dificuldades do governo chinês em lidar com essa nova fase de sua economia. Em um momento, busca conter distorções que foram responsáveis por parte do crescimento acelerado do passado; em seguida, preocupado com a freada econômica, volta a relaxar os controles.

Outro produto que pode sofrer impactos é o petróleo. Que, por enquanto, ainda está em alta. Neste ano, até agosto, as vendas de óleo brasileiro para China aumentaram 18,6% em valor (para US$ 12,1 bilhões) e 56,1% em volume.

Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e sócio da BRCG Consultoria, diz que o petróleo brasileiro pode perder espaço no mercado chinês por questões estratégicas.

A Rússia, que é um dos maiores produtores mundiais, está escoando seus estoques para a Ásia, por causa do bloqueio ocidental gerado pela guerra na Ucrânia. “É uma espécie de efeito deslocamento", diz o pesquisador.

Demanda por grãos e proteína animal deve continuar alta
 
Ribeiro avalia que a demanda por grãos e proteína animal deve continuar elevada. Em meio a uma supersafra brasileira de soja – quase 155 milhões de toneladas, 23% a mais que em 2022, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) –, as compras chinesas continuam crescendo.

Em oito meses de 2023, as vendas da oleaginosa para a segunda maior economia global cresceram 26,8% e as receitas, 12,7%, para US$ 29,7 bilhões – o descompasso se deve à queda do preço da commodity.

As exportações de carne também sofrem o efeito da queda dos preços das commodities no cenário internacional. A demanda chinesa pela proteína brasileira cresceu 5,3% em tonelagem, mas gerou uma receita 19,6% menor, de US$ 5,5 bilhões.

Fatores internos vão pesar mais do que os externos no crescimento brasileiro
 
Entre as economias da América Latina, a brasileira é a segunda mais sensível ao crescimento chinês, aponta o Julius Baer. De janeiro a agosto deste ano, 30% de nossas exportações tiveram a China como destino. Apenas o Chile é mais dependente: cerca de 40% de suas receitas com exportação vêm do gigante asiático.

Apesar disso, Dinic, do Julius Baer, destaca que a expansão da atividade no Brasil deve encontrar algum sustento na inflação um pouco mais moderada e no ciclo de redução da taxa de juros. “Os estímulos para a infraestrutura e a transição ecológica no Brasil podem favorecer seu crescimento no médio e longo prazo”, acredita o analista.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elevou suas projeções para a expansão do PIB brasileiro em 2023 e 2024. Elas passaram, respectivamente, de 1,7% para 3,2% e de 1,2% para 1,7%.
 
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